Capítulo Um
Cuidado com o que você deseja
Verão de 2008
Meu nome é Olivia Carter. Os mais íntimos me chamam de Liv. Tenho 29 anos e sou escritora desde que me entendo por gente. Bem, tecnicamente sou escritora desde que me formei em letras, na UCLA em Los Angeles de onde saí há três anos, quando vim pra Nova York em busca de desafios para explorar melhor meu potencial como escritora, ou melhor, meu potencial pra me meter em encrencas, como o Dave, tenente do departamento de polícia de Los Angeles costumava dizer. Na verdade tenho que confessar. Meu nome é encrenca, afinal escrevo sobre histórias reais, assassinatos, escândalos políticos, guerras. Sou curiosa até demais e teimosa igual mula empacada. Quer combinação melhor? Ou pior? Isso vai depender do ponto de vista de cada um.
Atualmente tenho um contrato com a maior editora de Nova York, e ano passado eu fui indicada pela primeira vez ao Pulitzer1. Eu sei, não é pra qualquer um, mas estou batalhando muito pra chegar lá. Literalmente, porque tive de passar um tempo no meio de uma guerra, afinal se você quer escrever num livro que seu presidente criou uma teoria de conspiração envolvendo armas químicas que nunca existiram, para fomentar uma guerra que tinha como única finalidade garantir as reservas de petróleo do inimigo, você não pode ficar com o traseiro sentado na poltrona de casa vendo as notícias pela televisão.
Também abri mão de algumas coisas importantes, como minha vida pessoal, por exemplo. Vida pessoal. O que é mesmo que isso significava? Ah ta, lembrei! Tinha um relacionamento de quase dois anos com John Johnson, vulgo J.J, um brilhante e conceituado Consultor Financeiro, lindo, jovem, rico e definitivamente apaixonado por mim. O “senhor perfeito” em pessoa. Foi esse o apelido que minha melhor amiga deu pra ele. O que mais eu podia querer? Só que eu queira mais e John não se encaixava nos meus planos.
Hoje tenho meu próprio apartamento, um carro novo, dinheiro guardado, uma carreira em ascensão e estou sozinha, o que teoricamente é o melhor pra mim agora já que virei uma workaholic2. Isso eu to tentando mudar e até já programei minhas férias, aliás, serão as primeiras nesses três anos. Vou pro Canadá, especificamente Toronto. Algumas pessoas estão me perguntando, por que Canadá. Depois de três anos, o normal seria que eu fosse para algum paraíso tropical na América do Sul ou Caribe. Mas sabe aquela melhor amiga que falei? Seu nome é Rebecca Holden. É lá que ela mora. A gente sempre se fala por AIM, ou por telefone, mas tem muito tempo que não nos vemos.
Além do mais, Toronto é uma cidade linda! Não que eu já tenha estado lá, mas a Beck, é assim que eu a chamo, sempre me fala a respeito. Nós nos conhecemos na universidade, ela era mais velha do que eu dois anos, trabalhava no refeitório pra ajudar nas despesas em LA, onde foi estudar graças a uma bolsa que ganhou no curso de direito. Em seu último ano pegamos uma matéria em comum e foi o suficiente para descobrirmos muitas afinidades. Inclusive pro que não presta. Como, por exemplo, tomar um porre daqueles e acordar numa fraternidade só para garotos. Isso não consta oficialmente em nenhum dos meus registros e se alguém insistir eu nego até a morte.
Mas voltando a Beck. Cumplicidade é tudo! Só não nos parecemos muito no aspecto físico. Tenho cabelos bem loiros, enquanto que os dela são negros contrastando com seus olhos “claros”. Ela faz o tipo, mulherão, alta, sarada, enquanto eu sou do tipo comum. Dizem que sou bonita, mas eu não ligo muito pra isso. Claro que me cuido. Faço caminhadas, tenho uma alimentação saudável, mas é só. Barriga de tanquinho só com plástica. Detesto malhação. Enfim, estou animada com minhas férias. Quem sabe se não acabo vivendo emoções fortes em Toronto ou talvez um romance intenso de verão? Enquanto imaginava essas coisas ouvia no som do carro uma música que dizia: “cuidado com aquilo que você deseja, porque você pode conseguir”. Sinistro não? Mas eu não acredito nessas coisas. Mal sabia eu que iria passar a acreditar da pior maneira possível.